Por mais que nos consideremos seres livres, estamos presos à amarras
invisíveis que se apoiam na desculpa das tradições culturais. Ter filhos
é uma delas. Por mais que estejamos vivendo num período em que
preconceito com quem questiona o padrão nesse quesito começa entrar em
processo de queda, muita gente ainda te olha como um extraterrestre
quando você pronuncia as palavras: “Eu não quero ter filhos.”
Ter filhos sempre foi uma tradição muito cultuada e
esperada na sociedade. Tanto é que um dos papéis principais de nossas
mães e avós era parir e cuidar dos filhos. Além de cuidar da casa, essa
era a função principal de todas as mulheres – muitas delas nem tinham o
direito de questionar se queriam realmente ser mães. Esse comportamento
se explica pois ele segue a ordem de evolução da natureza – machos caçam
e espalham os seus espermatozóides para o maior número de fêmeas que
conseguirem na vida. A fêmea aguenta o filhote no bucho, dá a luz, cuida
da cria enquanto o macho sai em busca de alimento. Mas temos que ter
muito cuidado ao criar conceitos tão importantes para nossas vidas, nos
baseando na realidade dos outros animais. As pessoas não precisam mais
se preocupar em reproduzir desesperadamente, porque já conquistamos
nosso espaço como espécie e principalmente pelo fato que o mundo já está
superlotado. Nossa realidade hoje é outra.
Há também o caso de mulheres que sofrem preconceito por decidirem ter filhos mais velhas – vulgo, com mais de 30. Ora, se hoje as nossas condições de vida permitem que uma mulher de 30 anos esteja no auge de muitas coisas, como podemos dizer que essas mulheres já estejam ficando velhas demais para essa escolha? Sim. Há questões de saúde, mas a medicina tem avançado muito nessa questão, desenvolvendo alternativas para mulheres que decidem engravidar mais tarde. Há também a questão da disposição – uma mãe de 45 anos provavelmente não terá a mesma disposição que uma de 25, mas como saber se, em questões de sabedoria, uma mulher nessa idade está muito mais centrada e certa dos valores que quer passar para um outro ser? E aí o que vemos são mulheres desesperadas com a possibilidade de não estarem prontas psicologicamente para gerar outro ser, mas que ignoram esse fato em nome da pressão invisível que ainda insiste em clamar que mulher que não teve filhos, não teve real utilidade para a vida. É aquela velha história “- Você vai mesmo deixar sua mãe sem netos?”, como se devêssemos fazer uma escolha tão séria em nome de uma vontade das nossas mães – elas já tiveram as vidas delas, as chances delas, e já fez as escolhas delas. Agora é a nossa vez.
A escolha de querer ter filhos precisa vir de dentro (não só do
chamado do corpo, mas também das condições da mente), e não de
imposições sociais ou familiares. Assim como casar na igreja, ou morar
junto, as pessoas precisam entender que a realidade de hoje é diferente,
e que esses conceitos podem e devem ser revistos, para que sejam
ajustados da melhor forma a realidade de cada um – hoje. Fazer as nossas
escolhas em vez de ir pro caminho que o vento te leva, é a maior
garantia de uma vida mais feliz e, o mais importante, com menos
arrependimentos.
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