Pesquisa feita por equipe da Universidade de Maryland (EUA) mostra que, para a maioria das mães, criança gorda é criança saudável. Elas estão enganadas.
Um bebê roliço, de bochechas rosadas, dobrinhas por todo o corpo e
pezinhos como pãezinhos enche os olhos da mamãe e é o orgulho do papai.
Pois é... Apesar de tudo o que já foi dito e escrito sobre os perigos da
obesidade infantil, para a maior parte dos pais, criança gorda é
criança saudável. Em um artigo publicado na mais recente edição da
revista científica Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine,
pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, revelam
quão enganadas estão as mães quando o assunto é o peso de seus rebentos.
Foram acompanhadas 281 mulheres, com filhos entre 12 e 32 meses. Para
começar, a maioria teve dificuldade para definir quanto os bebês
pesavam. As que mais erraram foram justamente as mães das crianças
obesas. E, pior, 81,7% delas estavam satisfeitas com a compleição física
dos pequenos — como se o acúmulo de tecido adiposo fosse uma espécie de
atestado de saúde e bons tratos. Não é assim. Lê-se na conclusão do
trabalho de Maryland: "Os hábitos alimentares são influenciados pela
percepção materna do tamanho das crianças. Impressões equivocadas podem
levar a comportamentos inapropriados em relação à alimentação".
O excesso de peso antes dos 5 anos tende a se estender pela
adolescência. E o risco de uma criança gorda se tornar um adulto obeso
aumenta exponencialmente quanto maior for a demora para controlar o
problema. Aos 10 anos, esse perigo chega a 80% (veja o quadro ao lado).
Atualmente, a obesidade infantil atinge 16,6% dos meninos brasileiros
com idade entre 5 e 9 anos e 11,8% das meninas na mesma faixa etária. Em
meados da década de 70, os índices eram, respectivamente, 2,9% e 1,8%,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Tornam-se frequentes nos consultórios dos pediatras crianças vítimas
de problemas típicos dos adultos, como colesterol alto, hipertensão e
diabetes tipo 2", diz Marcelo Reibscheid, pediatra do Hospital São Luiz,
em São Paulo. A obesidade infantil pode antecipar em dez a vinte anos a
manifestação de doenças cardiovasculares.
A maioria das crianças obesas está nessa situação em decorrência de um
estilo de vida totalmente inadequado. Elas comem de mais, especialmente
gordura saturada e açúcar, e se exercitam de menos. A obesidade infantil
se faz em casa — e começa a se desenhar na gravidez, com os hábitos
alimentares da mãe. O ser humano tem um apreço natural pelos sabores
adocicados. Com 24 semanas de gestação, os fetos já conseguem distinguir
diferenças de sabor no líquido amniótico — e dão preferência aos mais
docinhos. Um dos estudos mais fascinantes sobre o assunto foi feito no
início dos anos 2000 por pesquisadores da Universidade da Filadélfia,
nos Estados Unidos. Eles dividiram 46 grávidas em três grupos. O
primeiro tomou suco de cenoura durante a gestação. O segundo, somente na
amamentação e o terceiro não recebeu o líquido. Quando chegaram à idade
de receber alimentos sólidos, os filhos das mulheres dos dois primeiros
grupos foram mais receptivos a um cereal com sabor de cenoura.
Conclusão: o paladar infantil começa a se formar bem cedo. "A partir dos
2 anos, quando o apetite dos pequenos naturalmente diminui, os pais
devem incentivá-los a experimentar novos sabores", diz Virgínia Weffort,
presidente do departamento de nutrologia da Sociedade Brasileira de
Pediatria. Afinal, como defendem os nutricionistas, em um adágio
clássico, come melhor quem come de tudo, com variedade.
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